VITAMINA C e MUSCULAÇÃO – PARTE 1

Fala rapaziada doida! Tudo na paz?

Faz tempo que gostaria de escrever uma série sobre a vitamina C e sua influência na musculação. Este micronutriente, normalmente, é superestimado pelos marombeiros, sendo que alguns, inclusive, usam-no de forma totalmente equivocada, causando uma série de efeitos colaterais sem nem mesmo saber.

O intuito da presente série não será trazer uma regra infalível de suplementação, tentando persuadir o leitor a consumir o produto em questão a minha maneira. Quero apenas criar um ambiente de debate para demonstrar as principais polêmicas e incompreensões acerca do tema, apresentando, ao final, alguns protocolos interessantes, com seus devidos porquês.

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1. HISTÓRICO

A verdade é que precisamos consumir vitamina C por um “azar” evolutivo. Abro meu texto afirmando isto pois, caso analisemos o metabolismo dos animais e das plantas, veremos que praticamente todos eles são capazes de produzir, de forma endógena, o micronutriente em questão.

Eles utilizam o ácido glicurônico, derivado da glicose, como matéria-prima inicial nesta empreitada. Feito isso, ao menos três enzimas chegam para participar do processo, transformando a molécula inicial na famigerada “vitamina C”.

Algumas raras espécies de peixes, de aves e de mamíferos (certos morcegos, capivaras, porquinhos da índia e poucas famílias de primatas, incluindo os gorilas, chimpanzés e nós, seres humanos) não são capazes de sintetizar a sua própria vitamina C.

No caso dos primatas citados, sabe-se que há aproximadamente 25 milhões de anos atrás, um ancestral em comum deles sofreu uma mutação, no caso maléfica, que “anulou”, digamos assim, a produção de uma enzima hepática essencial na síntese de vitamina C, fazendo com estes animais perdessem essa maravilhosa capacidade (Irwin Stone, 1965).

Esta herança foi sendo geneticamente passada até os dias de hoje, milhões de anos depois, até chegar em nós, seres humanos, herdeiros desse macacão das antigas.

O “estudo” da vitamina C, ou melhor, da sua falta, que causa o clássico quadro de escorbuto, data desde a antiguidade, com relatos da doença no Egito e na Grécia há mais de 3 mil anos atrás. Ela também aparece durante a Idade Média, especialmente no período das Cruzadas.

No entanto, a coisa ficou realmente famosa, digamos assim, durante a Idade Moderna, no que tange ao contexto das Grandes Navegações, época em que os putos da Península Ibérica vieram invadir e arregaçar o que hoje é conhecido por América Latina, dando o pontapé inicial para o lixo em que vivemos até os dias de hoje.

Para que você tenha uma noção da fama da doença na época, 80% da tripulação de Fernão de Magalhães, o primeiro cara que deu a volta ao mundo, morreu vitimada pelo escorbuto. Mais de 60% da turma de Vasco da Gama, o portuga que chegou às Índias, teve o mesmo fim. Estima-se que entre os séculos XV e XIX, mais de 2 milhões de marinheiros foram conhecer o fundo do mar por conta da falta de vitamina C. Resumindo: a coisa era assustadoramente grave.

Durante certo tempo, acreditou-se que a doença era transmitida por algum elemento misterioso no território que hoje corresponde ao país africano Angola, coisa que gerou o termo “Mal de Angola” (escorbuto). Isso ocorria pelo fato de que, normalmente, os sintomas mais fortes da doença começavam a aparecer nesta altura da viagem. Não sei precisar para vocês quanto tempo demorava para ir de Portugal/Espanha até Angola, mas sei que o escorbuto grave leva pelo menos 6 meses para aparecer com uma dieta pobre em vitamina C.



Na verdade, o que os caras não sabiam é que esse transtorno aparecia pela falta de um micronutriente encontrado em praticamente todos os vegetais frescos. Como as viagens de navio eram muito longas, durando anos, as frutas e verduras logo apodreciam e os caras viviam à base de pães duros e caldos de peixes, gerando um quadro de deficiência de vitamina C e adoecendo.

A coisa começou a mudar no século XVIII, graças a Johann Bachstrom (1734) e James Lind (1747) que observavam que a doenças era combatida através do consumo de frutas cítricas e vegetais frescos, sendo o último pesquisador o mais famoso, por conta de seu livro “A treatise of the scurvy” (1753).

Avançando um pouco na história, em 1927 o bioquímico húngaro Szent-Györgyi, foi o primeiro cientista a conseguir isolar a vitamina C e a descobrir o tal fator antiescobuto, recebendo inclusive, por este e por outros trabalhos, o Prêmio Nobel em 1937.

Para encerrar, não poderíamos deixar de citar o pesquisador mais famoso por trás de todo este contexto. Se hoje a vitamina C é a mais famosa de todas, com um boom de vendas farmacêuticas há mais de 40 anos, foi tudo graças ao duas vezes vencedor do Prêmio Nobel Linus Pauling, que em 1970 publicou o livro “Vitamin C and the common cold” (a vitamina c e o resfriado comum), dando o pontapé inicial ao culto a este micronutriente.

Não poderíamos deixar os piratas de lado...

2. VITAMINA C: FUNÇÕES E BENEFÍCIOS

Apesar de os marombeiros suplementarem vitamina C por conta de sua fama antioxidante, a maior importância desta substância está, na verdade, no seu papel coadjuvante na formação do colágeno em nosso organismo, que é uma proteína que constitui nossos tecidos (pele, vasos sanguíneos, tendões e ligamentos), podendo corresponder a até 6% da nossa massa corporal total.

Podemos ainda atribuir mais algumas responsabilidades para o colágeno, como a participação na reparação/regeneração de tecidos comprometidos, assim como na promoção da integridade estrutural e elástica do nosso organismo.

Por conta de tudo isso, fica fácil entender o porquê de a falta de vitamina C causar enfraquecimento e comprometimento das articulações e vasos sanguíneos, ulcerações na boca, perda de dentes e de cabelo, dificuldade de cicatrização de feridas, sangramento de mucosas, etc., todos estes sintomas que estudaremos no próximo artigo da série e que constituem o clássico quadro do famoso escorbuto.

Outra grande função desta vitamina está no fato de ela ser importantíssima na absorção do mineral ferro pelo nosso organismo, que por sua vez constitui as hemoglobinas (glóbulos vermelhos do sangue), responsáveis, dentre outras coisas, pelo transporte de oxigênio.

A vitamina C ainda atua em diversas outras funções, a saber:

- Na formação de alguns neurotransmissores do nosso cérebro, como a serotonina e a noradrenalina;

- No metabolismo de gorduras e no balanço do colesterol bom (HDL), em detrimento do ruim (LDL);

- Na vasodilatação, ajudando a melhorar a função circulatória do organismo, sendo interessante aos marombeiros e aos hipertensos;

- Previne alguns tipos de câncer: boca, esôfago, pulmão, cólon, mama. Além disso, protege-nos contra inflamações e contra a doença gota;

- Auxilia mulheres com endometriose a se defenderem (um pouquinho) de quadros de hemorragia menstrual. Além disso, ajuda a manter o balanço de estrogênio mais estável durante o período citado;

- Está relacionada ao metabolismo de proteínas, cálcio, ácido fólico, histamina;

- Por fim, pode ainda ajudar no tratamento de queimaduras, fadiga crônica, fraturas ósseas, bronquite, asma, alergias, sinusite, Alzheimer e esclerose múltipla.


Um leitor mais atento pode estar se perguntando: “Porra, o vacilão não falou sobre o efeito antioxidante que ajuda na musculação e sobre a prevenção de gripes!”. Pois é, estes serão quadros dos próximos capítulos desta série. Muitas coisas ainda estão por vir. Até lá!


ATENÇÃO: Essa série contém 6 partes. Continue a leitura acessando: 
- parte 1: Histórico/ Vitamina C: funções e benefícios;
- parte 2: Radicais livres Vs. vitamina C e seu efeito antioxidante/Efeitos da falta de vit. C no organismo;
- parte 3: Fontes naturais e dose diária recomendada;
- parte 4: Gripes, resfriados e vitamina C;
- parte 5: Efeitos colaterais causados pelo excesso de vitamina C;
- parte 6: Vitamina C e musculação.


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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