POSSO TREINAR DOENTE? MUSCULAÇÃO E SISTEMA IMUNOLÓGICO – PARTE 1

Fala rapaziada!

Quem nunca pegou aquela gripe que sabotou todo um programa de treinamento e ficou numa dúvida cruel: treino ou não treino? Se eu treinar vou piorar?

Bom, e por falar nisso, será que a musculação fortalece o sistema imunológico, como muitos gostam de dizer? E num geral? Será que os esportes fazem bem para a saúde como um todo?

Estas e outras dúvidas eu tentarei esclarecer ao longo desta série de três artigos. Vamos começar:
Posso treinar doente? 

I- CONHECENDO O SISTEMA IMUNOLÓGICO, SUAS CÉLULAS E A INFLUÊNCIA DA MUSCULAÇÃO NESTE CENÁRIO.

Nosso sistema imunológico, como todos devem saber, é responsável pela defesa do organismo no combate a diversas doenças, como a gripe, as verminoses, as infecções, etc.

As células que exercem este papel são chamadas de LEUCÓCITOS ou glóbulos brancos e estão divididas em pequenos grupos, de acordo com suas características celulares e funções.

Listo abaixo as principais células, com uma breve descrição, assim como a influência que o treino de musculação poderá exercer sobre sua produção, baseado numa revisão bibliográfica de diversos artigos, que serão apontados como referência ao final da série:

1- MONÓCITOS: essas células se infiltram nos tecidos corporais e se diferenciam em macrófagos, que são essenciais para a reparação muscular pós-treino, desempenhando funções como estímulo à proliferação de células satélites, além de auxiliá-las a recrutar mais monócitos. Ainda prestam assistência na reparação da matriz extracelular, apresentam antígenos aos linfócitos e fagocitam restos celulares, protozoários, certas bactérias e vírus.

A resposta mais comum dessas células seria um aumento durante o treino, seguido de um pico imediatamente ao final dele, que mantém a monocitose acontecendo por algo em torno de 90-120 minutos, apesar de alguns estudos mostrarem que o fenômeno dura bem menos tempo.


2- LINFÓCITOS:

– Linfócitos T auxiliar (CD4 T Helper): responsáveis pela destruição de células infectadas por vírus.

Estudos mostram que não ocorre nenhuma mudança ou que ela acontece numa variação moderada e não significativa durante o treino.

Outros estudos mostram que ocorre um aumento da linfocitose imediatamente ao final do treino, com valores ascendentes até os 15 minutos do pós-treino. Em aproximadamente 30 minutos, a quantidade dessas células já volta a valores basais.



– Células T citotóxicas (CD8 cytotoxic T): responsáveis pela destruição de células infectadas por vírus.

Os estudos são divergentes. A maioria conclui que essas células têm sua produção aumentada logo após o treino, retornando a valores basais entre 15 e 45 minutos depois.

No entanto, já foi observada uma queda no CD8 de 14% após o treino, voltando a níveis normais 120 minutos depois.

– Linfócitos B: diferenciam-se em plasmócitos, as famosas células produtoras de anticorpos.
Podem ser divididos em dois grupos: CD19, ou células jovens/imaturas e CD20, ou células velhas/maduras.

O treinamento não mostrou nenhuma alteração no CD20, porém, o CD19 sofre um aumento em sua produção logo após o treino, tendo os valores iguais aos basais 120 minutos depois.

- Células Exterminadoras Naturais (NK ou Natural Killer): responsáveis pela destruição de células tumorais e de células infectadas por vírus.

Ocorre um aumento na sua produção durante o exercício e imediatamente após o fim dele, perdurando por até 15 minutos. Após esse tempo, há a diminuição de seus níveis até o basal, o que demora 45 minutos.

 3– NEUTRÓFILOS: fagocitam (como se comessem, englobassem) bactérias e fungos.
O pico da neutrofilia ocorre assim que o treino acaba e pode perdurar por algo entre 90 e 120 minutos.

4- BASÓFILOS: liberam histamina e outros mediadores da inflamação. Além disso, participam em reações alérgicas.

Poucos são os estudos que se dedicaram à análise dos basófilos. Alguns deles não mostraram qualquer variação na sua concentração, seja durante o treino, seja após.

Outros, no entanto, apontaram pequena alteração, semelhante à dos neutrófilos, interligada com a quantidade de lactato gerada pelo músculo durante aquela sessão de treinamento.

5– EOSINÓFILOS: responsáveis pela defesa contra helmintos parasitas (exemplo: tênia, lombriga, etc.), ação antiviral, modulação inflamatória e participação em reações alérgicas.

Esta célula é que a tem a resposta mais fraca em relação à musculação. Três estudos não conseguiram mostrar nenhum tipo de variação dela nos primeiros 30 minutos do pós-treino.

Uma única pesquisa, no entanto, demonstrou uma diminuição na produção de eosinófilos ao medi-los 120 minutos após o término dos exercícios.


Ficamos por aqui. Sei que este artigo foi científico até demais, ao contrário do que o grande público gosta, mas prometo que no próximo a coisa será bem mais prática e ilustrativa. Até lá!

(Esta série contém 3 partes. Continue a leitura acessando: parte 1parte 2 e parte 3).


FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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