TUDO SOBRE BCAA E SUA SUPLEMENTAÇÃO –PARTE 2

Fala rapaziada! Tranquilidade?

No último capítulo eu apresentei a vocês os BCAAS e uma de suas propriedades: o efeito anticatabólico de massa muscular. Continuemos a série:

3. BCAA E A QUEIMA DE GORDURA

Este assunto era polêmico, mas até que não é mais: afinal, BCAA ajuda a perder gordura corporal?

Ele não é um puta termogênico, do tipo “tomei um e já sinto uma febre de 40°C! Tô pingando gordura até pelas orelhas” ou “sinto que consigo correr uma maratona após ingerir um comprimido de BCAA, a famosa cápsula do capeta!”. Não é por aí, mas também não podemos desprezar a sua ajuda, afinal, estudos comprovaram que o BF (body fat) diminui com a suplementação de BCAA.

Vamos começar com o dos ratinhos (Nishimura et al., 2011): o Jiraya e Cia estudaram um grupo de roedores da seguinte maneira: encheram os bichos de gordura por 4 semanas, do jeito que muita gente por aí gosta, de modo que a proporção de lipídios na dieta ficasse em 45%! Dizem as más línguas que eles ficaram hospedados no McDonald’s durante o período, degustando a comida de todos os clientes, antes que fossem servidas.

Depois de tanto judiar dos animais, ao final da quarta semana introduziram BCAAs na água de alguns deles, mantendo, porém, a alta ingestão de gorduras. Essa segunda fase durou mais 14 dias.
Resultado: a turma que recebeu a suplementação ganhou 7% menos BF que o controle, ou seja, agregaram menos tecido adiposo. Além disso, o BCAA mostrou ser capaz de reduzir a concentração de triglicerídeos no fígado e na musculatura.

E quanto aos humanos?

Li uns textos do pesquisador Jim Stoppani, que, diga-se de passagem, são muito bons, falando de uma pesquisa sua do ano de 2009, onde analisou durante um período dois grupos de levantadores de pesos no quesito suplementação com BCAA X perda de gordura e os resultados foram os seguintes: o grupo da suplementação perdeu o dobro de massa gorda do que o placebo, especialmente no que diz respeito à famigerada pança.

Segundo Stoppani, os pesquisadores acreditam que boa parte dos resultados deve-se, especialmente, à leucina, por promover a síntese proteica, estimulando, assim, o aumento do metabolismo e um maior gasto energético, coisa que pode acabar sobrando para o BF.

Além disso, parece haver algum tipo de relação entre a leucina e os níveis de leptina, hormônio produzido pelo tecido adiposo e que controla o apetite: a primeira, aparentemente reduz a atuação da segunda, de forma que você sinta menos fome, logo, coma menos e agregue uma menor quantidade de calorias no dia.

Para finalizar, alguns atletas já usam, há um bom tempo, altas doses de leucina durante a fase de bulking aproveitando não só o benefício do aumento da síntese proteica, que estudaremos a seguir, mas também um melhor controle do BF, que sempre sobe neste período.


4. O BCAA, mTOR E A SÍNTESE PROTEICA

Não dá para começarmos o assunto sem antes falarmos sobre um tema bastante especial, um pré-requisito: mTOR. Se você já leu outros textos sobre BCAA e síntese proteica, certamente se deparou com este termo. Chuto que o autor passou batido, você não entendeu e aqui estamos novamente... Sendo assim, vamos acabar de vez com esse desconhecimento.



A) O QUE É m-TOR? Martelo do THOR?

A sigla mTOR, que nada tem a ver com o herói nórdico dos quadrinhos, vem da expressão “Mammalian Target of Rapamycin” e diz respeito a uma proteína muito complexa e especial das nossas células, que participa em mais de zinguibilhões de reações no organismo. De forma muito simplista, podemos interpretá-la como uma espécie de sensor, já que ela “capta” as quantidades de aminoácidos (especialmente a leucina), energia, ATP, nutrientes, etc.

Se o ATP está pouco presente, a atividade da mTOR é bloqueada; se está alto, ativada. Com a leucina a mesma coisa, sendo a funcionalidade dependente das quantidades deste aminoácido.

O reflexo disso tudo na musculação será o seguinte: mTOR ativo é sinônimo de síntese proteica, ou seja, de ganho de massa muscular. Por outro lado, quando está bloqueado, temos o catabolismo ou desconstrução muscular.

A mTOR ainda participa de uma porrada de coisas no organismo, como gatilhos de ativação de hormônios feito a insulina, IGF-1, entre outros.

Sinceramente, acho que apenas este basiquinho aqui, que não deve corresponder nem a 1% do tema, já está de bom tamanho para prosseguirmos.

(Fontes: Dennis PB. Et al., mTOR: a homeostatic ATP sensor. Science (NY, 2001); Betz C. and Hall M. N., “Where is mTOR and what is it doing there?”, JCB, 2013.)

Agora que você já tem uma pequena noção do que seja mTOR, ficou fácil associar a atuação dos BCAAs, com destaque para a leucina, no ganho de massa muscular/ aumento da síntese proteica, certo?


B) A SÍNTESE PROTEICA

Os BCAAs acabam atuando sob diversos aspectos que, por sua vez, geram efeitos convergentes, levando ao aumento da síntese proteica. Vamos listá-los:

- Combate ao catabolismo: isso já foi discutido anteriormente, mas gostaria de chamar a sua atenção novamente. Quando dizemos que a ação do cortisol se eleva, aumentando a quebra muscular por falta de energia, estamos afirmando, de certa forma, que ele atrapalha a síntese proteica.

Com o BCAA em ação, porém, esse catabolismo muscular acontece em muito menor proporção.
É como num jogo de futebol: se o placar estiver 1x0 para o adversário, você precisará marcar ao menos dois gols para vencer. No entanto, caso esteja 0x0, você precisará marcar apenas um gol, ou seja, o mesmo resultado (vitória) fica probabilisticamente mais “fácil” de acontecer.

Traduzindo para a musculação, combatendo o hormônio do stress, estabilizamos a partida e até as chances de a massa magra vencer, apenas por evitar que esta se degrade. Tudo o que ela precisará fazer agora será marcar um único golzinho (um belo treino pesado) para o time do anabolismo vencer.

Para uma vitória certa, escale a leucina, a valina e a isoleucina para o seu time! (Gostaram da frase de efeito com tom propagandístico no final?!)

- Aumento da ação dos hormônios anabólicos: como o intuito aqui é apenas listar, podemos comentar que o BCAA aumenta a ação/estimula a produção de importantíssimos hormônios anabólicos, como a insulina (estimula a entrada de glicose e aminoácidos nas células), a testosterona (o BCAA não aumenta sua produção, mas sim sua ação, por conta das quedas do cortisol) e o GH (aumenta a síntese proteica, ganho de força e queima de gordura). Como consequência, teremos um aumento da síntese proteica. Simples assim.


- Maior fornecimento de matéria-prima: irei expor este tópico da seguinte maneira: aproximadamente 33-35% da nossa musculatura é composta pelos aminoácidos integrantes do suplemento BCAA. Caso aumentemos a ingestão deste, o que poderemos esperar? Acho que a resposta é simples, não?

Com maior fornecimento de matérias-primas (lembrando que músculo é proteína e esta, por sua vez, é composta por aminoácidos), teremos um ambiente propício ao anabolismo.

- mTOR: por último, o filet mignon, a “Mammalian Target of Rapamycin”. Conforme explanado anteriormente, esta proteína atua sinalizando o aumento ou a diminuição da síntese proteica. Alguns dos mecanismos de controle são os níveis de leucina e de ATP no organismo. Fornecendo ambos, acionaremos o gatilho para que a construção de massa magra seja aumentada (Dreyer et al., 2008).

É como se a leucina chegasse na fábrica de proteína e mexesse no botão de velocidade, ligando no modo “hard” ou “beast”, fazendo os funcionários trabalharem como doidos, feito a “semi-escravidão” da primeira Revolução Industrial.

O mais interessante aqui é o fato de que estamos aumentando não só a síntese proteica, já que os três itens anteriores também o fazem, mas também a capacidade que a célula tem de construir massa muscular. É como se fornecêssemos muito mais matérias-primas e, ao mesmo tempo, comprássemos mais máquinas: a coisa é realmente em larga escala.

Se você tem interesse em otimizar a ação das suas mTOR, dois suplementos podem ajudar: a creatina (clique AQUI para conhecer), que vai auxiliar na regeneração de ATP, e o BCAA, que vai fornecer grandes quantidades de leucina.


Ficamos por aqui. No próximo capítulo iremos discutir sobre os BCAAs e fadiga, sistema imunológico e recuperação pós-treino. Até lá!



ATENÇÃO: Essa série contém 5 partes. Continue a leitura acessando: 
- PARTE 1: O QUE É BCAA? / COMBATE AO CATABOLISMO
- PARTE 2: BCAA E A QUEIMA DE GORDURA/ O BCAA, A mTOR E A SÍNTESE PROTÉICA
- PARTE 3: BCAA REDUZ A FADIGA DURANTE O TREINO?/ RECUPERAÇÃO PÓS-TREINO E SISTEMA IMUNE
- PARTE 4: QUAIS ALIMENTOS SÃO BOAS FONTES DE BCAA?/ BCAA Vs. WHEY/ QUAIS DOSES TOMAR? DENÚNCIAS
- PARTE 5: COMO E QUANDO TOMAR BCAAS?/ INTERAÇÃO COM OUTROS SUPLEMENTOS/ EFEITOS COLATERAIS



FERNANDO PAIOTTI
Personal Trainer e Consultor Online
CREF 151531-G/SP


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